09 abril 2012

4 Anos, 1461 Dias


Tens na pele travo a laranja e no beijo três gomos de riso,
Tanto mel, tanto sol, fruta, sumo, água fresca, provei e perdi o juízo...

(Rosa Lobato de Faria)

21 fevereiro 2012

Trespasse

Nunca te agradeci e talvez devesse. Pelo amor, pelo prazer, pela partilha, pela vivência.
Recordo-me de alguém dizer que jamais farias uma pessoa feliz e de eu pensar quão equivocado esse alguém estava. Afinal, conjugando as vogais e as consoantes, foste tu quem me adestrou o termo felicidade.
Com o tempo aprendi que vieste para ficar. E ficaste. Não há um único dia que cesse sem que eu me lembre de ti. Se não existisses, não teria o sótão da memória repleto de verbos de amor e recordações, repleto de devaneios perpassados… No fundo, entre as inquietações e os pressupostos, és o refúgio que eu demando a todo o instante.
Ainda agora gostava de poder dizer que te amo, mas pronunciá-lo em voz alta é difícil, extremamente difícil... Não se trata de te conquistar ou forçar o sentimento. É apenas uma vontade tão profunda quanto a própria vida e um nó de tal forma apertado que adquire um vínculo insubstituível.
Além disso, creio que o destino, ou qualquer outra entidade, teceu as nossas vidas como duas fiadas num só novelo de lã... E um trespasse assim tem de ser eterno.
Não pretendo soar mais do que aquilo que sou, um parágrafo anacrónico no teu modo de vida errante. Contudo, no meu íntimo, não és apenas mais um capítulo: és cada um dos livros, linha por linha, que eu insisto em escrever para ti…
Assim moldei a nossa livraria, encadernando-a com a réstia de esperança de narrações antigas e de outras tantas por desvendar... Confesso que, em certa ocasião, por força da solidão e do afastamento, ponderei cerrar a porta e trespassar o negócio por um único preço: a reconquista da tal felicidade adestrada.
Porém, hoje sei que a pessoa para quem escrevo ainda existe e que não é tarde demais para o agradecimento. Posto isto, obrigado.


27 outubro 2011

Sem Armas E Sem Forças


Estou cansada de sonhar, de desejar, de te querer e não te ter, de nunca saber se pensas ou não em mim, se à noite adormeces com saudades no peito (...). Depois de todas as palavras e de todas as esperas, fiquei sem armas e sem forças. Sobra-me apenas a certeza de que nada ficou por fazer ou dizer, que os sonhos nunca se perderam, apenas se gastaram com a erosão do tempo e do silêncio.

(Margarida Rebelo Pinto)

27 julho 2011

Páginas Brancas


A poesia é o subtil tom da lira,
O onírico mundo de utopia pura,
Mas que consegue condensar a ira
Num eufemismo da vida e da amargura...

Páginas brancas onde se sofre e delira:
Inspiração, suor, tortura.
E eis que do nada o poeta tira
A realidade calada, crua e dura!

Esboço de vida, esboço de mim,
Fúlgido oásis de sonhos dispersos
Que para sempre me acolhe e acalma.

Rabisco o papel que escurece, enfim,
Tentando segurar estes soltos versos
Que se esgueiram agora pela minh'alma...

28 junho 2011

Pilar

A tua lembrança criou a noite. Solitária, morosa, vil. Criou-a com o intuito de azoar o meu descanso, quarto minguante carregado de desejos.
Desfiz a cama e quase me cheirou a ti, ao teu perfume impregnado nos lençóis cor de feno; quase senti as tuas mãos a percorrer-me o corpo, a tua boca buscando a minha, o teu olhar buscando o meu… Desfiz a cama e estendi-me nela. Desnudo, desamparado, eu sem ti.
Cada manhã é chuva ácida e corrosiva, um aguaceiro capaz de consumir qualquer porção de pele onde caia. Sublimação e silêncio.
Levaste-me o coração sem o prometer de volta. Entretanto, a vida cimentou-se numa estrutura surda-muda, tal aplasia deste peito inabitado. Sem abrigo, sem alicerce, sem pilar.
Ainda assim não me cansei da demora, da desarmonia de cada elemento, do mirar transeunte sobre uma vida embalsamada… Por agora, quero apenas forjar os dias deste amor edificado e apontar um abraço e um beijo, tal impotência de tos dar pessoalmente.

You left a lovestain on my heart
And you left a bloodstain on the ground,
But blood comes off easily...

(José González)

09 abril 2011

3 Anos, 1095 Dias


I'm liking this american boy,
American boy...

(Estelle)

11 dezembro 2010

Silêncio


Há uma altura em que deixamos de ser poetas. Não por falta de inspiração ou preguiça, mas por haver palavras a mais a serem escritas e pouco espaço livre no universo no meio de tanto desespero por algo profundo. Todos passamos por lá, uns mais tarde que outros: a altura de dar sentido ao percurso. E se o percurso não tem sentido, inventa-se! Há uma altura em que todos querem ser poetas, há uma altura em que temos que deixar o barulho serenar.

(Tiago Bettencourt)

24 setembro 2010

O Tempo

Irreversível e limitado, versátil e controlador. O tempo é o afazer agendado para quanto antes, o verbo amachucado entre parêntesis rectos.
Em conceito, é simultaneamente passado e futuro, presente. O que vivi e irei viver, o pouco que vivo contigo. Dia-a-dia convivo com a tua ausência; o teu enleio é o prazo de um beijo, o teu olhar o disparo de uma bala, a tua demora a síncope que me preenche o peito.
O inverso do tempo é a eternidade, o amor soprado na indefinição do imensurável sem início nem fim. Anseio ser a brisa que modifica o tempo, caminhar entre nuvens de climas transcorridos, ser o sol da manhã de outro período.
O meu coração é um relógio de roscas e roldanas, sinto-o tiquetaquear dentro de mim. Os anos, os meses, os dias, as horas. Não conto minutos nem segundos por necessitar de ti…
O tempo gerou-se da espera e a espera do início de todos os tempos. Até o éden se deteve enquanto Eva mordia a maçã. Tal pecado ergueu tantos e tantos outros – és o meu fruto proibido.
Se não deténs o tempo, tampouco o farei eu. Por muito que me fira e doa. Contudo, ainda creio no dia em que ensinaremos o tempo (e o sentimento) a quedar-se na eternidade…

(Ilustração de Rosário Pinheiro)

26 agosto 2010

Fill It With Work


Katherine: Get up. When did this start?
Bree: When Orson left, I began having a glass of white wine now and then. Then, when Danielle took Benjamin, I didn't see any reason to stop at just one...
Katherine: So is this why you missed the lunch last week and the braverman bar mitzvah?
Bree: I can't help myself, all right?! My husband's gone. My son's gone. I have nothing left.
Katherine: No, actually, you have a lunch for 40 in 3 hours and I'm not letting you out of it.
Bree: Oh, Katherine, please...
Katherine: Okay, so you have a void in your life. Welcome to the club. Don't fill it with wine. Fill it with work, with accomplishments. Just think about the woman you could be by the time Orson gets back. Or is this the woman you want him to come home to?
Bree: He's gonna be so ashamed of me...
Katherine: No, he won't, because you're not gonna tell him. You know he'd just blame himself.
Bree: I don't know if I can make it this time.
Katherine: Yes, you will, because I am moving in.
Bree: You would do that?
Katherine: When I had nothing, you made me your partner. I'm not gonna forget that. I am gonna get you through this. And when we're done, that scary woman over there [in the mirror] - she's never gonna be seen in this house again...

(Desperate Housewives)

05 agosto 2010

Antes Que Anoiteça

Antes que anoiteça há que pôr-se o sol. Dissolver-se em todas as cores do ocaso e esmorecer lentamente no horizonte até se cingir em nós e nas nossas memórias. Semelhante espectro regressa dia após dia, casualmente nublado por incertezas e desilusões…
Outrora o sol era meu e teu, do seu oriental raio ao mais poente. Cada trilho esbatia o meu passo, cada jornada a cadência de ser teu a qualquer custo. Cada sorriso uma promessa, cada adereço uma forma de te despir, cada refeição um café à luz de ti.
Porém, findou-se-nos o Verão no ventre. Três meses por ano entre grãos de areia e pevides de sandia. Por ora, sobejam-me as algas e o sal na pele, tão olvidada está de te sentir…
Antes que anoiteça (e esqueça) deixa-me dizer que te amo.


The stars, the moon, they have all been blown out,
You left me in the dark.
No dawn, no day, I'm always in this twilight
In the shadow of your heart...

(Welch / Summers, Florence + The Machine)