Na maioria das circunstâncias, o título dos livros cria uma frente de batalha contra as pessoas.
As cabeças movem-se uns quantos graus para Oeste e invertem a sua posição de forma a enfrentar o inimigo desconhecido. Por sua vez, os olhos são bombardeados com uma expressão que lhes remete para um juízo de valor.
É então que, por associação a vivências pessoais ou por simples curiosidade, o sentimento desencadeado é preponderante na atractividade do livro e, consequentemente, na vitória da batalha do título contra as pessoas.
"O Amor É Fodido"
Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.
Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances - porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.
Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa ser o que é. Só na solidão permanece. [...]
Tenho o meu amor, como toda a gente, mas não o usei. Tenho também a minha história, mas não a contei. O romance que escrevi, escrevi-o para quem não quer saber dos amores e das histórias de ninguém. Não contei nem inventei nada. Não usei nem pessoas nem personagens. Fugi. Quis mostrar que pertencia ao mundo onde o amor, como as histórias e os romances, existem só por si. Como se me dirigisse a alguém. Outra vez. É sempre arrogante e pretensioso escrever sobre uma coisa que se escreveu. Apenas posso falar do que foi a minha vontade: escrever sobre o amor sem traí-lo, defini-lo ou magoá-lo; deixando-o como era, antes da primeira palavra que escrevi. Seria inadmissível pôr-me aqui a cismar se consegui ou não fazer o que eu queria. Como seria dizer que não sei. Sei. Sei que não consegui. Só espero não tê-lo conseguido bem.
(Miguel Esteves Cardoso)
4 comentários:
Semana impossível, o trabalho é que é fodido. Nunca li o livro,não sou entusiasta destes escritores que tiveram facilidade de publicar por serem figuras públicas. Contudo não duvido da qualidade dos mesmos, apenas não estão entre o meu espólio de literatura.
Espero que o livro te arrebate tanto.
Bom fim de semana
'braço!
Esse livro tem dado que falar... Caralho, o amor é mesmo fodido!
hug
m., as obrigações são realmente fodidas.
O livro é estranho, primeiro estranha-se e depois entranha-se.
Abraço e obrigado pela constante atenção ao meu blog. =)
ennis, seu asneirento. LOL
Postar um comentário