04 março 2008

A Carta Que Nunca Te Escrevi

Quando as pautas se tornam insuficientes, escrevo-te sem nunca te escrever. Porque nunca me lerás. Porque as palavras teimam em escapar-me e esconder-se naquele recanto de mim que nem eu conheço.
Nesse recanto sou teu. O meu corpo só reage ao teu estímulo, só tu me tocas com as mãos da alma, só tu te enroscas a mim de forma a não se saber onde um começa e o outro termina.
Fizeste-me feliz, extremamente feliz. Fizeste-me acreditar no amor, que tudo é possível. Contudo, fizeste-me compreender que tudo depende de nós e tu não quiseste...
Preciso escrever-te para apagar a agonia da minha boca quando não tem a tua. Atrás de uma porta, à revelia de quem passa.
Porquê? Inventa uma desculpa que eu caio, deixo-me cair... Nem que seja para te ter e pensar que é só para mim.
A distância não é a culpada, tu é que a utilizaste como arma e me feriste... A chaga permanece aberta, à espera que venhas curá-la (ou que a deixes apodrecer).
Nunca te disse que te amo, mas amei. Amei com medo de ter sentimentos pelo telefone, com medo de amar sem conhecer o que amo. Porque te amei e não sei quem és. Quando te lembras de mim, a cada noite, sou especial? Sou a tua rotina? Quando me escondes a tua vida, sou um protegido? Sou um estranho?
A vida é completamente sugada por responsabilidades: enquanto tu cresces, eu afasto-me. Cada dia que corre dou um passo na direcção contrária a ti. Até não me fazeres falta, até te amar enquanto és meu, até te amar sem me fazeres falta.
Hoje não nos sinto ligados: sou teu e, em certa medida, és meu. Amo-te sem te amar, assim como te escrevo sem te escrever. A vida é na medida em que a criamos. Criei-a assim.
O recanto de que te falei sou eu todo. Este que te ama sem te amar, que te escreve sem te escrever, que tem saudades sem precisar de ti.

3 comentários:

Eme disse...

Ainda há pouco deixei em post que adoro cartas. Cartas! Já pouco se fazem, banalizamos tudo pelo telefone ou pelas sms, mas as cartas... mesmo as que ficam por enviar, mantêm a esperança, enquanto nelas continuar gravado o verbo.

Um beijo

Tiago Martins disse...

Essa pessoa devia realmente ler esta carta... e ouvir aquilo que é necessário. Tudo se resolverá.

Abraço

Anônimo disse...

Aqui esta um post mt bom. a niveld escrita absorvente, qto a tematica diz mto. Diz aquilo que ultimamente pensas.
talvez devesses seguir a ideia do ennis e dar a ler esta carta a pessoa a quem e dirigida.
pensa nisso

abrz