30 agosto 2008

Agosto

O ano tem uma dúzia de meses e os meses uma mão cheia de dias. De rosa ao peito, tão candentes como tu.
Li-te a manhã no olhar coberto de brilho. Ouvi-te falar e a tua voz sorria. Ofereci-te demão minha morada aberta, essência de mim. Vi-te o reflexo no beijo enamorado. Senti-te o curioso encontro, envolvente acaso, sucesso de vida repartido a dois. Sem planos. Sem agendas. Sem mundos modernos de virtualidade.
A tarde cingiu o teu corpo, três naves, três tramos, séculos de talha, azulejo e pintura, altar-mor de tua boca texturizado. Cingiu o teu corpo, terra e água, braçadas imersas no azul-marinho.
A noite trouxe na voz o sentimento, fado lunar, astro talhado pelo teu compasso. Trouxe na voz o murmúrio de novas brisas, som de fusão, travesseiro do teu regaço. Trouxe na voz a tessitura própria do amor, timbre em sintonia, cidade a contrabaixo de sombras. Cada passo um encanto. Cada esquina uma virtude. Cada rua uma cumplicidade digna de ti.
Vida de expresso, partida e chegada, veículo deste vício atípico de ti. Desfiz-me em tabaco, mortalha em que me envolves, estádios de prosa pela noite dentro. Num coquetel de ópio. Num pretérito mais-que-perfeito do futuro. Num pronome pessoal e plural. Num teatro repleto de palcos e personagens, teres e seres. Num refúgio para sempre teu.
A madrugada concedeu a diáspora, Cristo Rei do teu abraço, e a fervura da pele morena a raiar alvorada. Singela recordação do sol emoldurado em bricabraques de sonhos.
A paixão tomou outro nome, outra força, outro poder. Chamar-lhe amor é ser dois e um só corpo: em horas rubras, em horas vãs, em todas te quero perto de mim...




Quem tem, quem tem
Amor a seu jeito,
Colha a rosa branca,
Ponha a rosa ao peito.

(Mariza)

08 agosto 2008

08.08.08

Hoje a literatura é o mito da realidade, o palíndromo, o comboio para algures, o veículo para uma única ocorrência de fiorde.


Expect the best and prepare to be surprised.

(Denis Waitley)

15 julho 2008

Acima Do Prazer

Ao ritmo alucinante de quem quer mas não pode, anoto este pensamento, qual impotência de estagnar o tempo e desfrutá-lo por minha conta e risco.
A preguiça e o cansaço confundem-se à incerteza do sol, sal da pele, grãos de inveja em vez de areia...

Confesso que cheguei a invejar-lhes a vida organizada e ordeira, (...), a vírgula maníaca do modo funcionário de viver, tão morno, tão brando, tão baseado nas aparências e em tudo como deve ser, porque o parecer está ainda e sempre acima do ser, e o dever acima do prazer, do sentir, de tudo.

(Margarida Rebelo Pinto)


14 junho 2008

O Sexo E A Cidade

Sarah Jessica Parker é Carrie Bradshaw, uma famosa escritora que acredita que as mulheres se mudam para Nova Iorque em busca dos dois L's - Labels and Love:

Good morning, on July 7

Though still in bed, my thoughts go out to you, my Immortal Beloved, now and then joyfully, then sadly, waiting to learn whether or not fate will hear us.
I can live only wholly with you or not at all.
Yes, I am resolved to wander so long away from you until I can fly to your arms and say that I am really at home with you, and can send my soul enwrapped in you into the land of spirits.
Yes, unhappily it must be so.
You will be the more contained since you know my fidelity to you. No one else can ever possess my heart - never - never.
Oh God, why must one be parted from one whom one so loves.
And yet my life in V is now a wretched life.
Your love makes me at once the happiest and the unhappiest of men.
At my age I need a steady, quiet life - can that be so in our connection?
My angel, I have just been told that the mailcoach goes every day - therefore I must close at once so that you may receive the letter at once.
Be calm, only by a calm consideration of our existence can we achieve our purpose to live together.
Be calm - love me - today - yesterday - what tearful longings for you - you - you - my life - my all - farewell.
Oh continue to love me - never misjudge the most faithful heart of your beloved.
Ever thine.
Ever mine.
Ever ours.

(Ludwig van Beethoven)

28 abril 2008

Ego Maximizado

A cada lágrima que jorra liberto-me do vício de ti, expurgo de sal ensosso de intenções e desejos.
A vontade é de explodir e reprimir. Num misto de amor e raiva, de alívio e decepção. Num misto de mistérios guardados a sete chaves entre as roupas lavadas com sabão azul. Sabão da aldeia. Da tua aldeia – território imperial com poder para te prender porquanto queres.
Temo-te mais do que a noite. Quando a luz se apaga e o vento me preenche, sobram meros destroços do que sentia.
Não há necessidade de me prostrar ante teus pés. De tos lavar. De tos enxugar. De tos beijar. De te apostolar, oh Deus fracamente omnipresente. A fé é um pedaço de chão lamacento, alcatrão sujo pela crença de que não me basto.
Se és minha silva, sou tua rosa, és meu espinho. Até não te sentir rasgar a minha pele. Erva daninha que consome e se instala para ficar. Não me parasites!
Outros Vascos da Gama se predisporão a descobrir a Índia de que sou feito: a canela e o caril, o açafrão entre pitadas de pimenta-do-reino.
O telefone cansou-se de dar voz ao teu amor. Não careço do teu sexo, tampouco de ti. De tudo o que sou, tão-somente o beijo de boa-noite e de bom-dia, café da manhã a dois, sem apertos nem pressões. De tudo o que dou, tão-somente a mão estendida no transcorrer do percurso em que tropeço, mas não caio...

Acabou.

14 abril 2008

Estações Da Vida

Outrora a tua chegada era a Primavera. Estações de sonhos sonhados ao beirado de uma janela florida para o mundo. Para ti.
O olhar traduzia a vastidão por ti escondida, por mim encontrada. A voz apartava sons dóceis e ternurentos. O beijo tornava real o desejo de unidade. O abraço despertava o olfacto perdido de quem há muito não amava com os sentidos. Digo os cinco sem excepção.
Primavera curta essa, lençóis brancos de partida que a demora amarelou...
Entretanto, as estações confundiram-se nas brumas do tempo que teimou em forçar a escuridão. Até a tua chegada não mais ser Primavera, antes uma chegada e nada mais do que isso.
A vida é uma janela: quando se fecham os estores da magia, todo o encanto irrompe o seu final. O frio do Inverno não passa do sopro dos corações perdidos de si e dos seus. Essa janela, decaída com o tempo, contempla agora a escrita das estrelas que, por linhas tortas, parece anunciar o impossível... O impossível é apenas a próxima etapa a ser vencida.

24 março 2008

No Teu Poema

Num País Chamado Simone, o meu ouvido foi presenteado com o cantar sentido deste poema:

No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.
No teu poema existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaço
do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
o canto em vozes juntas, vozes certas,
canção de uma só letra
e um só destino a embarcar,
o cais da nova nau das Descobertas.
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.

(José Luís Tinoco)

20 março 2008

Lado A Lado


Sob estas linhas, escreve-te aquele que carrega o mesmo nome do que tu. O meu passado é uma memória no teu presente, respectivamente o meu futuro.
Hoje fico-me pelas palavras, claustros da idealização de uma sociedade perfeita. O amanhã não passa de um poema impresso em tinta de sonhos…
Mantém-te fiel a mim, fiel a ti. Quando o tempo me esvazia, caminhamos lado a lado e eu vivo em ti. Há, pois, em mim mais quem viva.

16 março 2008

Solidão

A solidão é o refúgio de nós próprios quando isolados do mundo. À medida que os minutos passam, somam-se horas de solidão, horas que tornam a noite uma extensão do dia e o dia uma extensão da noite.
O silêncio governa a minha vida, cheia de nada, repleta de vazio. Ao meu redor não existe ninguém, apenas a túnica que me envolve. Na verdade, quem a ultrapassara não me preenche; já nem esses me conhecem...
A preguiça é inimiga do trabalho, minha inimiga chegada: sinto vontade de me evadir, mas preguiça de o fazer. Porque me acomodo a ter, mesmo sem ter ninguém.
Só me quero a mim. Porque me preencho. Porque me basto. Ou então não. Ou então tento bastar-me, já que não encontro quem me valha, quem esteja lá para mim, única e exclusivamente para mim...
É na solidão que escrevo (por não poder falar). Porque a televisão não me distrai. Porque a Internet é feita de contactos. Porque é a caneta que mais me escuta, mais me entende. Talvez porque não fale, porque se limite a marcar o que desenho. Talvez porque é minha escrava.
Eu não procuro um escravo, apenas um amigo presente, um amor verdadeiro, alguém que me faça redefinir o termo solidão...



Eu sei
A tua vida foi
Marcada pela dor de não saber aonde dói
Mas vê bem
Não houve à luz do dia
Quem não tenha provado
O travo amargo da melancolia

Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O travo amargo da solidão

É só mais um dia mau...

(Ornatos Violeta)

04 março 2008

A Carta Que Nunca Te Escrevi

Quando as pautas se tornam insuficientes, escrevo-te sem nunca te escrever. Porque nunca me lerás. Porque as palavras teimam em escapar-me e esconder-se naquele recanto de mim que nem eu conheço.
Nesse recanto sou teu. O meu corpo só reage ao teu estímulo, só tu me tocas com as mãos da alma, só tu te enroscas a mim de forma a não se saber onde um começa e o outro termina.
Fizeste-me feliz, extremamente feliz. Fizeste-me acreditar no amor, que tudo é possível. Contudo, fizeste-me compreender que tudo depende de nós e tu não quiseste...
Preciso escrever-te para apagar a agonia da minha boca quando não tem a tua. Atrás de uma porta, à revelia de quem passa.
Porquê? Inventa uma desculpa que eu caio, deixo-me cair... Nem que seja para te ter e pensar que é só para mim.
A distância não é a culpada, tu é que a utilizaste como arma e me feriste... A chaga permanece aberta, à espera que venhas curá-la (ou que a deixes apodrecer).
Nunca te disse que te amo, mas amei. Amei com medo de ter sentimentos pelo telefone, com medo de amar sem conhecer o que amo. Porque te amei e não sei quem és. Quando te lembras de mim, a cada noite, sou especial? Sou a tua rotina? Quando me escondes a tua vida, sou um protegido? Sou um estranho?
A vida é completamente sugada por responsabilidades: enquanto tu cresces, eu afasto-me. Cada dia que corre dou um passo na direcção contrária a ti. Até não me fazeres falta, até te amar enquanto és meu, até te amar sem me fazeres falta.
Hoje não nos sinto ligados: sou teu e, em certa medida, és meu. Amo-te sem te amar, assim como te escrevo sem te escrever. A vida é na medida em que a criamos. Criei-a assim.
O recanto de que te falei sou eu todo. Este que te ama sem te amar, que te escreve sem te escrever, que tem saudades sem precisar de ti.

14 fevereiro 2008

Os Versos Que Te Fiz

Quem ama verdadeiramente não recorre a actos. Talvez fale. Talvez diga o não dito, o impossível. Talvez exprima o que lhe vai na alma: simplesmente amor...

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!


(Florbela Espanca)


Feliz Dia dos Namorados!

05 fevereiro 2008

Ennis

O sono é o mais antigo refúgio contra os problemas. Tu não és excepção.
Hoje, a minha insónia é por não te ver resolvido, por saber que podes mas não dás, que queres mas não mudas...
Não te quero ver triste. És parte integrante de mim - quando tens uma lágrima de tristeza, é como se a partisses ao meio e eu chorasse contigo.
A vida atou os nossos destinos com um nó de tal forma forte que é impossível separá-los...
O que seria de mim sem a tua voz, sem as tuas cantorias e gaitadarias?
O que seria de mim sem o teu quarto ali ao lado, a tua toalha estendida perto da minha e a tua roupa engelhada em cima da mesa da sala?
O que seria de mim sem o teu cigarro na varanda, sem partilhar contigo a paisagem da cidade e as conversas até congelarmos de frio?
O que seria de mim sem a nossa Lili até às tantas, o chá e as torradas com manteiga e óregãos?
O que seria de mim sem os teus Reeses, as tuas batatas palhinha cheias de ketchup e maionese, sem ter a quem fazer o Rolo de Carne e o Arroz da Mata?
O que seria de mim sem te ver enroscado no sofá ao som de música clássica?
Sinceramente, não sei o que seria de mim sem te ter, dia após dia, à minha espera. Para mais uma rodada de Amêndoa Amarga, mais uma rodada de riso, mais uma pitada de cusquice...

Não tenho vergonha de dizer que gosto de ti e que és único e insubstituível.
Se não mudares por ti, fá-lo por mim...

03 fevereiro 2008

À Procura

A vida é feita de encontros e desencontros. Supostamente, o essencial da nossa existência é encontrarmo-nos a nós próprios. Porém, quando olho para mim, não me percebo; tenho tanto a mania de sentir que, às vezes, me extravio e não sei bem se sou eu quem em mim sente. Nada em mim é certo e está de acordo comigo próprio. Esboço de vida. Procura permanente.


29 janeiro 2008

O Amor É Fodido

Na maioria das circunstâncias, o título dos livros cria uma frente de batalha contra as pessoas.
As cabeças movem-se uns quantos graus para Oeste e invertem a sua posição de forma a enfrentar o inimigo desconhecido. Por sua vez, os olhos são bombardeados com uma expressão que lhes remete para um juízo de valor.
É então que, por associação a vivências pessoais ou por simples curiosidade, o sentimento desencadeado é preponderante na atractividade do livro e, consequentemente, na vitória da batalha do título contra as pessoas.

Fui completamente arrebatado por um título. Espero sê-lo pelo livro.

"O Amor É Fodido"

Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.
Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances - porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.
Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa ser o que é. Só na solidão permanece. [...]
Tenho o meu amor, como toda a gente, mas não o usei. Tenho também a minha história, mas não a contei. O romance que escrevi, escrevi-o para quem não quer saber dos amores e das histórias de ninguém. Não contei nem inventei nada. Não usei nem pessoas nem personagens. Fugi. Quis mostrar que pertencia ao mundo onde o amor, como as histórias e os romances, existem só por si. Como se me dirigisse a alguém. Outra vez. É sempre arrogante e pretensioso escrever sobre uma coisa que se escreveu. Apenas posso falar do que foi a minha vontade: escrever sobre o amor sem traí-lo, defini-lo ou magoá-lo; deixando-o como era, antes da primeira palavra que escrevi. Seria inadmissível pôr-me aqui a cismar se consegui ou não fazer o que eu queria. Como seria dizer que não sei. Sei. Sei que não consegui. Só espero não tê-lo conseguido bem.

(Miguel Esteves Cardoso)

19 janeiro 2008

Before And After Us

Antes e depois de nós é a maneira de introduzir o assunto que tem ficado por discutir. Penso que está na altura de me render ao teclado do computador e, numa sessão de psicoterapia, revelar o que me vai na alma.

1. "O Sentimento"

Não há qualquer réstia de dúvida de que o fim-de-semana foi fantástico e de que és uma pessoa praticamente perfeita. Não há, pois, qualquer réstia de dúvida de que gosto de ti.
Se eu estendesse o lençol entre nós, sentir-te-ia a meu lado... O teu beijo fazia-me sentir amado, o teu abraço seguro, as tuas palavras especial.

2. "A Saudade"

Sinto saudades. Sinceramente, não tenho ideia de como me expressaria se, de cada vez que me ligasses, não te pudesse murmurar tal sentimento ao ouvido. Porém, é pena que esta relação se mantenha apenas através de uns quantos telefonemas...
Por ironia do destino, a tua vida, bastante ocupada, complicou-se ainda mais.
O momento mais feliz do meu dia tornou-se aquele em que te ouço do outro lado da linha e em que, por momentos únicos e irrepetíveis, és o meu amor.

3. "A Distância"

Gostava de eliminar a distância do dicionário os quilómetros, hectómetros, decâmetros, metros, decímetros e centrímetros só os milímetros fariam sentido... A tua boca e a minha, o beijo.
A distância ergue-se, uma vez mais, como o maior e mais cruel impedimento à minha felicidade total. Eu que, neste momento, só desejava poder estar a tempo inteiro perto de ti.

4. "O Egoísmo"

Egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos.

(Oscar Wilde)

Nesta perspectiva, colocar os meus interesses, desejos e necessidades em primeiro lugar é, sem dúvida, um modo egoísta de viver. Por que é que só damos valor àquilo que não temos?! Por que é que não damos valor ao que já conquistámos?! Tenho de reaprender a viver feliz com tudo de bom que possuo...

15 janeiro 2008

Vieste


Não há palavras em versos para cantar a tua beleza. Não sei como metaflorear este sentimento... Entraste no meu mundo e fizeste de mim o teu lar. És paixão, aquilo que de mais precioso trago em mim.

(Sara Tavares)

10 janeiro 2008

Vem

O hoje tornou-se amanhã e o amanhã, depois.

Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lentejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe.
Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distância subitamente impossível de percorrer.

Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter conosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos...
Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos.
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.

Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.

Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes,
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido,
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo.
Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido,
Folha a folha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco.
Uma folha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei;
Outra folha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós não temos,
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo...

Vem sobre os mares,
Sobre os mares maiores,
Sobre os mares sem horizontes precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso da fera,
E acalma-o misteriosamente,
ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!

Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé ante pé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso é inútil.

Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranquilamente com um gesto materno afagando.
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sobre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem.

A lua começa a ser real.

(Álvaro de Campos)

Tu és a minha noite. A lua é o nosso sonho.

05 janeiro 2008

This Land Is Mine

Canta-me ao ouvido. Faz-me sentir especial.

From behind these walls I hear your song...
Oh, sweet words!
The music that you play lights up my world,
The sweetest that I’ve heard...
Could it be that I’ve been touched and turned,
Oh Lord, please finally… Finally things are changing!


This land is mine but I’ll let you rule,
I let you navigate and demand...
Just as long as you know… This land is mine!
So find your home and settle in,
Ohhh, I’m ready to let you in.
Just as long as we know… This land is mine!

After all the battles and the wars,
The scars and loss
I’m still the [king] of my domain
And feeling stronger now.
The walls are down a little more each day
Since you came, finally… Finally things are changing!

(Dido)

04 janeiro 2008

Tanto Mel, Tanto Sol



Ser feliz é olhar para as coisas simples sob um novo ponto de vista e sentir uma força infinita capaz de mover o mundo. É ter vontade de realçar as qualidades daqueles de quem gosto e desfazer-me em elogios.
Ser feliz é um momento. Este.

Mesmo que não se torne mais do que isto, sinto que já valeu a pena... Por este período. Por este sonho. Por mim.

03 janeiro 2008

Prelude To A Kiss

Sometimes I feel like I don't belong anywhere
And it's gonna take so long for me to get to somewhere...

Sometimes I feel so heavy hearted, but I can't explain 'cause I'm so guarded...
But that's a lonely road to travel and a heavy load to bear.

And it's a long, long way to heaven but I gotta get there...
Can you send an angel?
Can you send me an angel... To guide me.

(Alicia Keys)

Ninguém podia suplicar de forma mais perfeita pela vinda de um anjo que aponte o caminho até ao céu. Ninguém podia suplicar de forma mais perfeita pela vinda do amor. O amor é isto.