28 abril 2008

Ego Maximizado

A cada lágrima que jorra liberto-me do vício de ti, expurgo de sal ensosso de intenções e desejos.
A vontade é de explodir e reprimir. Num misto de amor e raiva, de alívio e decepção. Num misto de mistérios guardados a sete chaves entre as roupas lavadas com sabão azul. Sabão da aldeia. Da tua aldeia – território imperial com poder para te prender porquanto queres.
Temo-te mais do que a noite. Quando a luz se apaga e o vento me preenche, sobram meros destroços do que sentia.
Não há necessidade de me prostrar ante teus pés. De tos lavar. De tos enxugar. De tos beijar. De te apostolar, oh Deus fracamente omnipresente. A fé é um pedaço de chão lamacento, alcatrão sujo pela crença de que não me basto.
Se és minha silva, sou tua rosa, és meu espinho. Até não te sentir rasgar a minha pele. Erva daninha que consome e se instala para ficar. Não me parasites!
Outros Vascos da Gama se predisporão a descobrir a Índia de que sou feito: a canela e o caril, o açafrão entre pitadas de pimenta-do-reino.
O telefone cansou-se de dar voz ao teu amor. Não careço do teu sexo, tampouco de ti. De tudo o que sou, tão-somente o beijo de boa-noite e de bom-dia, café da manhã a dois, sem apertos nem pressões. De tudo o que dou, tão-somente a mão estendida no transcorrer do percurso em que tropeço, mas não caio...

Acabou.

14 abril 2008

Estações Da Vida

Outrora a tua chegada era a Primavera. Estações de sonhos sonhados ao beirado de uma janela florida para o mundo. Para ti.
O olhar traduzia a vastidão por ti escondida, por mim encontrada. A voz apartava sons dóceis e ternurentos. O beijo tornava real o desejo de unidade. O abraço despertava o olfacto perdido de quem há muito não amava com os sentidos. Digo os cinco sem excepção.
Primavera curta essa, lençóis brancos de partida que a demora amarelou...
Entretanto, as estações confundiram-se nas brumas do tempo que teimou em forçar a escuridão. Até a tua chegada não mais ser Primavera, antes uma chegada e nada mais do que isso.
A vida é uma janela: quando se fecham os estores da magia, todo o encanto irrompe o seu final. O frio do Inverno não passa do sopro dos corações perdidos de si e dos seus. Essa janela, decaída com o tempo, contempla agora a escrita das estrelas que, por linhas tortas, parece anunciar o impossível... O impossível é apenas a próxima etapa a ser vencida.