25 junho 2009

Chardron

Sempre gostei de livrarias e bibliotecas. Sei que podia ser feliz a viver nelas, a viver todas as vidas dentro dos livros, a devorá-las, a deixar que elas devorassem a minha alma. Pelo menos era o que pensava antes de te conhecer. Agora, tudo o que vejo, vejo-o em ti. Dou por mim a folhear um qualquer livro à espera que ele me diga algo de ti. Dou por mim a tentar mostrar-te tudo o que me preenche os pensamentos. E dou por ti cada vez mais longe.
A asfixia de não saber onde levar os meus passos daqui para a frente é ainda maior por saber que não os levarei até ti.
Não sei escrever por estruturas. Sei, mas não quero.
Não é assim que me sinto, e não vale a pena escrever se não for para despejar a nossa realidade. Egocentrismo amarelado, talvez.
A minha irmã disse-me um dia que ninguém escreve apenas para si mesmo, eu disse-lhe que isso era mentira, que há escritos tão secretos como pensamentos clandestinos, ela porém respondeu que, se são apenas pensamentos, devem ficar voláteis na mente, e não no papel.
Continuo a não acreditar nela, mas sei agora que tudo o que escrevo é para ti, meu querido.
Para que mesmo que um dia te esqueça, te volte a encontrar nas minhas próprias palavras.

(Rosário Pinheiro)

23 junho 2009

Body's A Temple

One of the things I had to learn to do is to embrace this body that I have and be grateful for what this body has given me. God blessed me and this body. I mean, I could weep right now thinking about the love and appreciation I have for this body. For that, I am truly grateful.

(Oprah Winfrey)


Mais de duas décadas, corpo a corpo, a indagar-te a anatomia, a fixar-te a consciência, a cimentar-te a fundação e a reerguer-te a estrutura. Imperfeita, concreta, única, inesquecível.
Obrigado por me recordares. Sobretudo recordares. Pelas lembranças e pensamentos, por nunca o esqueceres. Pelo medo de o sentir cada vez mais longe e cada vez mais outro. Por, nos instantes de angústia, me afagares nos meus próprios braços.
Por me grisares o cabelo, pela preocupação e desespero. Por me mirares, perfumares e beijares cada milímetro de mim. Por me acariciares o rosto na lágrima doce que não me exorciza. Por me cravares a personalidade com as unhas. Por me eriçares a pele à sua voz e me arrepiares com o seu toque.
Obrigado pelo vigor de tal músculo, batimento do coração que te negaste a findar. Pelo aroma da respiração numa réstia de ar.
Por marchares e escalares tanta mudança e contemplares o céu isolado. Em busca de um sol maior. E uma imensa saudade. Obrigado por me aluares cada caminho.
Por me apagares e corrigires quando me cerras os olhos para repousar.
Obrigado por, mesmo assim, não te separares de mim. Mesmo se o amo mais, se o amo melhor, se o amo sem te controlar. Serás sempre meu (será sempre teu).