29 janeiro 2008

O Amor É Fodido

Na maioria das circunstâncias, o título dos livros cria uma frente de batalha contra as pessoas.
As cabeças movem-se uns quantos graus para Oeste e invertem a sua posição de forma a enfrentar o inimigo desconhecido. Por sua vez, os olhos são bombardeados com uma expressão que lhes remete para um juízo de valor.
É então que, por associação a vivências pessoais ou por simples curiosidade, o sentimento desencadeado é preponderante na atractividade do livro e, consequentemente, na vitória da batalha do título contra as pessoas.

Fui completamente arrebatado por um título. Espero sê-lo pelo livro.

"O Amor É Fodido"

Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.
Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances - porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.
Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa ser o que é. Só na solidão permanece. [...]
Tenho o meu amor, como toda a gente, mas não o usei. Tenho também a minha história, mas não a contei. O romance que escrevi, escrevi-o para quem não quer saber dos amores e das histórias de ninguém. Não contei nem inventei nada. Não usei nem pessoas nem personagens. Fugi. Quis mostrar que pertencia ao mundo onde o amor, como as histórias e os romances, existem só por si. Como se me dirigisse a alguém. Outra vez. É sempre arrogante e pretensioso escrever sobre uma coisa que se escreveu. Apenas posso falar do que foi a minha vontade: escrever sobre o amor sem traí-lo, defini-lo ou magoá-lo; deixando-o como era, antes da primeira palavra que escrevi. Seria inadmissível pôr-me aqui a cismar se consegui ou não fazer o que eu queria. Como seria dizer que não sei. Sei. Sei que não consegui. Só espero não tê-lo conseguido bem.

(Miguel Esteves Cardoso)

19 janeiro 2008

Before And After Us

Antes e depois de nós é a maneira de introduzir o assunto que tem ficado por discutir. Penso que está na altura de me render ao teclado do computador e, numa sessão de psicoterapia, revelar o que me vai na alma.

1. "O Sentimento"

Não há qualquer réstia de dúvida de que o fim-de-semana foi fantástico e de que és uma pessoa praticamente perfeita. Não há, pois, qualquer réstia de dúvida de que gosto de ti.
Se eu estendesse o lençol entre nós, sentir-te-ia a meu lado... O teu beijo fazia-me sentir amado, o teu abraço seguro, as tuas palavras especial.

2. "A Saudade"

Sinto saudades. Sinceramente, não tenho ideia de como me expressaria se, de cada vez que me ligasses, não te pudesse murmurar tal sentimento ao ouvido. Porém, é pena que esta relação se mantenha apenas através de uns quantos telefonemas...
Por ironia do destino, a tua vida, bastante ocupada, complicou-se ainda mais.
O momento mais feliz do meu dia tornou-se aquele em que te ouço do outro lado da linha e em que, por momentos únicos e irrepetíveis, és o meu amor.

3. "A Distância"

Gostava de eliminar a distância do dicionário os quilómetros, hectómetros, decâmetros, metros, decímetros e centrímetros só os milímetros fariam sentido... A tua boca e a minha, o beijo.
A distância ergue-se, uma vez mais, como o maior e mais cruel impedimento à minha felicidade total. Eu que, neste momento, só desejava poder estar a tempo inteiro perto de ti.

4. "O Egoísmo"

Egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos.

(Oscar Wilde)

Nesta perspectiva, colocar os meus interesses, desejos e necessidades em primeiro lugar é, sem dúvida, um modo egoísta de viver. Por que é que só damos valor àquilo que não temos?! Por que é que não damos valor ao que já conquistámos?! Tenho de reaprender a viver feliz com tudo de bom que possuo...

15 janeiro 2008

Vieste


Não há palavras em versos para cantar a tua beleza. Não sei como metaflorear este sentimento... Entraste no meu mundo e fizeste de mim o teu lar. És paixão, aquilo que de mais precioso trago em mim.

(Sara Tavares)

10 janeiro 2008

Vem

O hoje tornou-se amanhã e o amanhã, depois.

Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lentejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe.
Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distância subitamente impossível de percorrer.

Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter conosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos...
Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos.
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.

Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.

Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes,
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido,
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo.
Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido,
Folha a folha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco.
Uma folha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei;
Outra folha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós não temos,
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo...

Vem sobre os mares,
Sobre os mares maiores,
Sobre os mares sem horizontes precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso da fera,
E acalma-o misteriosamente,
ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!

Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé ante pé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso é inútil.

Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranquilamente com um gesto materno afagando.
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sobre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem.

A lua começa a ser real.

(Álvaro de Campos)

Tu és a minha noite. A lua é o nosso sonho.

05 janeiro 2008

This Land Is Mine

Canta-me ao ouvido. Faz-me sentir especial.

From behind these walls I hear your song...
Oh, sweet words!
The music that you play lights up my world,
The sweetest that I’ve heard...
Could it be that I’ve been touched and turned,
Oh Lord, please finally… Finally things are changing!


This land is mine but I’ll let you rule,
I let you navigate and demand...
Just as long as you know… This land is mine!
So find your home and settle in,
Ohhh, I’m ready to let you in.
Just as long as we know… This land is mine!

After all the battles and the wars,
The scars and loss
I’m still the [king] of my domain
And feeling stronger now.
The walls are down a little more each day
Since you came, finally… Finally things are changing!

(Dido)

04 janeiro 2008

Tanto Mel, Tanto Sol



Ser feliz é olhar para as coisas simples sob um novo ponto de vista e sentir uma força infinita capaz de mover o mundo. É ter vontade de realçar as qualidades daqueles de quem gosto e desfazer-me em elogios.
Ser feliz é um momento. Este.

Mesmo que não se torne mais do que isto, sinto que já valeu a pena... Por este período. Por este sonho. Por mim.

03 janeiro 2008

Prelude To A Kiss

Sometimes I feel like I don't belong anywhere
And it's gonna take so long for me to get to somewhere...

Sometimes I feel so heavy hearted, but I can't explain 'cause I'm so guarded...
But that's a lonely road to travel and a heavy load to bear.

And it's a long, long way to heaven but I gotta get there...
Can you send an angel?
Can you send me an angel... To guide me.

(Alicia Keys)

Ninguém podia suplicar de forma mais perfeita pela vinda de um anjo que aponte o caminho até ao céu. Ninguém podia suplicar de forma mais perfeita pela vinda do amor. O amor é isto.