24 setembro 2010

O Tempo

Irreversível e limitado, versátil e controlador. O tempo é o afazer agendado para quanto antes, o verbo amachucado entre parêntesis rectos.
Em conceito, é simultaneamente passado e futuro, presente. O que vivi e irei viver, o pouco que vivo contigo. Dia-a-dia convivo com a tua ausência; o teu enleio é o prazo de um beijo, o teu olhar o disparo de uma bala, a tua demora a síncope que me preenche o peito.
O inverso do tempo é a eternidade, o amor soprado na indefinição do imensurável sem início nem fim. Anseio ser a brisa que modifica o tempo, caminhar entre nuvens de climas transcorridos, ser o sol da manhã de outro período.
O meu coração é um relógio de roscas e roldanas, sinto-o tiquetaquear dentro de mim. Os anos, os meses, os dias, as horas. Não conto minutos nem segundos por necessitar de ti…
O tempo gerou-se da espera e a espera do início de todos os tempos. Até o éden se deteve enquanto Eva mordia a maçã. Tal pecado ergueu tantos e tantos outros – és o meu fruto proibido.
Se não deténs o tempo, tampouco o farei eu. Por muito que me fira e doa. Contudo, ainda creio no dia em que ensinaremos o tempo (e o sentimento) a quedar-se na eternidade…

(Ilustração de Rosário Pinheiro)